A voz, um canal de comunicação não-verbal
Hoje, Dia Mundial da Voz, vamos falar-lhe deste extraordinário instrumento de comunicação e interação social.
Sabia que a identificação de emoções mais gerais, como a ansiedade ou o medo, é feita de forma mais precisa através da voz, em comparação com os restantes canais de comunicação não-verbais, incluindo a própria expressão facial?
É verdade! As qualidades vocais que acompanham a linguagem são essenciais para uma compreensão plena do significado do discurso, fazendo da voz uma ferramenta valiosa para navegar as interações sociais que fazem parte da vida quotidiana.
A via lenta e a via rápida
À semelhança das expressões faciais, as qualidades da voz podem ser expressas de forma voluntária e involuntária. Se leu o artigo “Será possível falsificar as expressões faciais das emoções?”, poderá recordar-se de que a expressão emocional pode seguir dois caminhos neurológicos: a via lenta e a via rápida.
A primeira corresponde à manifestação de um discurso voluntário e processa-se da seguinte forma: um estímulo interno ou externo desperta um conjunto de impulsos nervosos que são transmitidos para a área de Broca; esta indica ao córtex motor para ativar os movimentos que a mandíbula, a língua, os lábios, as cordas vocais, a laringe e o diafragma necessitam de executar para criar os sons que compõem as palavras.
Contudo, se o estímulo possuir um forte impacto emocional, a via rápida é priorizada: a amígdala aciona de forma automática um alarme que induz os nervos simpáticos do Sistema Nervoso Autónomo a alterar o fluxo sanguíneo, o ritmo respiratório e a produção de saliva. Estas alterações fisiológicas influenciam os órgãos responsáveis pela criação do discurso e modificam involuntariamente as características da voz, como a tonalidade, a velocidade e o volume.
Em busca de uma teoria universal
Por esta razão, tal como acontece com as expressões faciais, as qualidades da voz revelam, de forma espontânea, emoções distintas. A questão que se coloca é saber se as características vocais das emoções são, também elas, universais, ou seja, expressas e reconhecidas da mesma forma, em todas as culturas?
Charles Darwin foi um dos apoiantes desta hipótese, tendo descrito na obra A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais diversos correlatos vocais de estados emocionais. Mais estudos apoiaram esta possibilidade, apresentando uma taxa de concordância média de 62% na expressão vocal das emoções, para avaliações realizadas dentro da mesma cultura, e de 48% para avaliações entre culturas diferentes. Apesar de os resultados serem inferiores aos da expressão facial (em que a concordância média era de 77,5%), são muito significativos, pois a taxa de acerto acidental de uma emoção entre sete opções é de apenas 14%. Vejamos a seguinte tabela, da autoria de Mark Frank, Andreas Maroulis e Darrin Griffin.
Como poderá observar ao analisar a tabela, diferentes emoções possuem as mesmas características. No entanto, apesar da voz não possuir o mesmo grau de precisão das expressões faciais, é possível encontrar formas de distinguir as diferentes emoções. Por exemplo, tanto na raiva como na alegria ocorre uma elevação da tonalidade, do volume e da velocidade. No entanto, a raiva distingue-se claramente da alegria pela aspereza na voz; de igual forma, a expressão vocal do medo diferencia-se das outras emoções pelos tremores, ao passo que a tristeza se distingue pela suavidade e, em determinadas situações, pela voz soluçada.
Uma das peças chave para levar a bom porto uma conversa significativa é a capacidade de identificar o estado emocional do interlocutor. Ao estar atento não só às expressões faciais e aos movimentos corporais, mas também às qualidades vocais, certamente conseguirá reconhecer com mais precisão o que as pessoas com quem interage estão a sentir e ter conversas mais empáticas.