Serão as crenças populares sobre a linguagem corporal reais?

A Perceção Social

Existe um fenómeno fundamental associado ao comportamento não verbal que é muitas vezes negligenciado: a perceção social, ou seja, a forma como as pessoas interpretam a linguagem corporal dos outros. Apesar da maioria das crenças populares sobre a linguagem corporal serem incorretas e não terem qualquer fundamento científico, influenciam e moldam a forma como as pessoas vêm e interpretam a realidade social.

O “Dicionário”

Veja-se, a título de exemplo, a ideia generalizada de que existe um dicionário de linguagem corporal. Cada comportamento tem um significado muito específico, independentemente do contexto. Esta ideia é muito apelativa pois o ser humano aprecia padrões. Basta memorizar um conjunto de padrões e será capaz de descodificar os comportamentos de qualquer ser humano! Se a pessoa realmente acreditar nestes padrões, esta será a sua realidade e irá agir perante os outros de acordo com estas crenças universais.

Uma Situação Embaraçosa

Imagine que pretende criar uma ligação com uma pessoa importante que acabou de conhecer. Estende-lhe a mão e sente uma enorme firmeza no aperto de mão. Talvez o seu aperto não tenha sido suficientemente forte. O seu interlocutor poderá equiparar o seu aperto de mão à sua personalidade. É possível que catalogue a sua personalidade como fraca.

Dirigem-se até um café, onde aguardam uma mesa disponível. Durante o período de espera coloca as mãos nos bolsos. O outro olha para si de forma desconfiada. Talvez esteja a pensar que o facto de ter ocultado as mãos significa que se sente inseguro e tem algo a esconder. Limitou-se a colocar as mãos nos bolsos. Apenas isso!

Aproxima-se da mesa indicada pelo empregado, senta-se e encosta-se na cadeira. Enquanto o seu interlocutor conta um episódio profissional, cruza os braços. Nota imediatamente algum desconforto da parte dele. Está provavelmente a interpretar que o ato de cruzar os braços é uma postura defensiva e de bloqueio, reveladora do seu desinteresse na conversa. Estava simplesmente confortável a ouvi-lo!

Após pedirem as bebidas, começa a mexer na aliança. A outra pessoa poderá pensar automaticamente que está nervoso. É somente um tique! Ao responder a uma pergunta sobre o seu trabalho, desvia o olhar. Surge subitamente na mente do outro a suspeita de que está a mentir pois evitou o contacto ocular. Estava apenas a aceder a informação guardada na memória! Ao responder a outra pergunta, toca no nariz. O outro tem agora a confirmação da sua suspeita pois revelou, tal como o Pinóquio, um sinal inequívoco associado à mentira.

O seu interlocutor levanta-se repentinamente da mesa e vai-se embora com a certeza de que estava perante uma pessoa frouxa (aperto de mão fraco), insegura (colocou as mãos nos bolsos), desinteressada (cruzou os braços), nervosa (mexeu na aliança) e mentirosa (desviou o olhar e tocou no nariz). A impressão que causou no outro não podia ser pior!

Serão as Crenças Populares sobre a Linguagem Corporal Reais?

Não, pois a comunicação não-verbal é um processo dinâmico, interativo e contextualizado. Os movimentos corporais são sempre reativos a estímulos internos e externos, sendo fundamental conhecer as pessoas em questão e os restantes interlocutores envolvidos na situação. Por muito apelativo que seja, não é possível basear-se em padrões simplistas para detetar emoções e avaliar a credibilidade das outras pessoas.

Sim, pois as crenças populares moldam a perceção dos outros sobre si e a forma como aqueles veem a realidade. Mesmo que incorretas, as pessoas são influenciadas por estas ideias e irão muitas vezes olhar para si de acordo com estas crenças. Um elemento essencial para causar uma boa impressão é agir com naturalidade e espontaneidade. No entanto, é também importante ter em consideração as crenças das outras pessoas e evitar alguns comportamentos que são tipicamente encarados como negativos, para que a perceção social seja a mais favorável possível.

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