O Transtorno de Pânico e o Reconhecimento Facial das Emoções

O Transtorno de Pânico

O Transtorno de Pânico, que se caracteriza pela existência de momentos recorrentes e inesperados de medo e ansiedade de intensidade muito elevada – os chamados ataques de pânico – é, de acordo com o DSM-V, um subtipo da Perturbação de Ansiedade.

Estes episódios devem preencher quatro ou mais critérios de uma lista de sintomas somáticos e cognitivos e devem ser acompanhados da preocupação persistente com a possibilidade de ter mais ataques ou alterações comportamentais como, por exemplo, o evitamento de determinados locais. Este transtorno tem uma maior incidência em mulheres e o seu início costuma acontecer no fim da adolescência ou início da idade adulta.

 

Implicações cognitivas e emocionais

Este transtorno está relacionada com a existência de défices cognitivos seletivos, nomeadamente ao nível da memória espacial, da memória explícita e da atenção seletiva, como têm apontado diversos estudos (Coles & Heimberg 2002; Boldrini et al. 2005; Alves et al. 2013). Adicionalmente, existe ainda uma relação entre esta perturbação e a dificuldade em regular as emoções.

A regulação emocional é fundamental para o bem-estar do indivíduo e para a adaptação social e está intimamente relacionada com a capacidade de reconhecer e processar emoções individuais. De igual modo, a capacidade para reconhecer com precisão as expressões faciais da emoção nos outros é uma competência de comunicação essencial.

Vários  estudos têm tentado perceber se o reconhecimento das expressões faciais da emoção também se encontra prejudicado em indivíduos com Perturbação de Pânico. Os resultados encontrados sugerem a existência de défices seletivos nos circuitos neuronais responsáveis pelo processamento de emoções negativas.

 

O reconhecimento de emoções negativas

Os resultados de um estudo levado a cabo em 2007 por Kessler et al. apontam para a existência de uma diminuição da capacidade de reconhecimento emocional, nomeadamente na identificação das expressões faciais da tristeza e da raiva. Além disto, identificou ainda, nestes indivíduos, uma tendência para interpretar como raiva expressões faciais que não revelam esta emoção.

Uma investigação conduzida por Reinecke et al., em 2011, identificou uma hipervigilância em relação a rostos que expressam medo, nos indivíduos que sofrem de Transtorno de Pânico.

Este resultado foi confirmado pelo estudo de Cai et al. (2012), que identificou este excesso de atenção também em relação às expressões de nojo e surpresa. Os investigadores identificaram ainda dificuldades ao nível do reconhecimento emocional, nomeadamente diminuição da precisão no reconhecimento de expressões faciais de medo e de nojo.

Bilodeau et al. decidiu focar a sua investigação, realizada em 2015, nos filhos de indivíduos com Perturbação de Pânico. Os resultados encontrados revelam que estas crianças e jovens também apresentam tempos de reação reduzidos no reconhecimento de emoções negativas específicas e mais erros na descodificação de rostos zangados e temerosos.

Bibliografia

Alves, M. R. P., Pereira, V. M., Machado, S., Nardi, A. E., & de Oliveira e Silva, A.C. (2013). Cognitive functions in patients with panic disorder: A literature review. Revista Brasileira de Psiquiatria, 35(2): 193-200. doi: 10.1590/1516-4446-2012-1000

Bilodeau, C., Bradwejn, J., & Koszycki, D. (2015). Impaired facial affect perception in unaffected children at familial risk for panic disorder. Child Psychiatry and Human Development, 46(5): 715-724. doi: 10.1007/s10578-014-0513-z

Boldrini, M., Del Pace, L., Placidi, G. P. A., Keilp, J., Ellis, S. P., Signori, S., Placidi, G. F., & Cappa, S. F. (2005).Selective cognitive deficits in obsessive-compulsive disorder compared to panic disorder with agoraphobia. Acta Psychiatrica Scandinavica, 111(2): 150-158. doi: 1111/j.1600-0447.2004.00247.x

Cai, L., Chen, W., Shen, Y., Wang, X., Wei, L., Zhang, Y., Wang, W., & Chen W. (2012). Recognition of facial expressions of emotion in panic disorder. Psychopathology 45(2): 294-299. doi: 10.1159/000334252

Coles, M. E., & Heimberg, R. G. (2002). Memory biases in the anxiety disorders: Current status. Clinical Psychology Review, 22(4): 587-627. doi: 10.1016/s0272-7358(01)00113-1

Kessler, H., Roth, J., von Wietersheim, J., Deighton, R.M., & Traue, H.C. (2007). Emotion recognition patterns in patients with panic disorder. Anxiety 24(3): 223-226. doi: 10.1002/da.20223

Reinecke, A., Cooper, M., Favaron, E., Massey-Chase, R. & Harmer, C. (2011). Attentional bias in untreated panic disorder. Psychiatry Research, 185(3): 387-393. doi: 10.1016/j.psychres.2010.07.020

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