Poderão as Expressões Faciais Ser um Indicador da Qualidade da Relação Terapêutica?

Expressões faciais da emoção, um GPS relacional

A investigação pioneira de Paul Ekman, desenvolvida nas décadas de 60 e 70, veio comprovar que as expressões faciais constituem uma poderosa ferramenta de navegação das relações interpessoais, uma vez que transmitem os estados emocionais dos indivíduos. Este fenómeno verifica-se em todas as relações, incluindo a relação de colaboração e confiança que se estabelece entre pacientes e psicólogos ou psicoterapeutas, habitualmente designada aliança terapêutica.

Nos últimos anos, vários investigadores têm tentado perceber até que ponto o conhecimento sobre as expressões faciais da emoção poderá ser utilizado para potenciar a qualidade da relação terapêutica.

O Estudo da Universidade de Haifa

Em 2024 foi publicado um estudo de um grupo de investigadores dos Departamentos de Psicologia e de Ciências Computacionais da Universidade de Haifa[1], em Israel, que tinha como objetivo perceber precisamente esta questão: se as expressões faciais poderiam ser um indicador da qualidade da aliança terapêutica. Para tal, analisaram os vídeos de 16 sessões de psicoterapia de 94 pacientes, previamente diagnosticados com Perturbação Depressiva Major.

Para aferir a qualidade do vínculo terapêutico, foram avaliadas as expressões faciais de pacientes e psicoterapeutas, previamente classificadas em dois tipos de dinâmicas interpessoais: a reatividade emocional (a reação emocional de uma pessoa ao comportamento de outra pessoa, tal como é manifestado pelas suas expressões faciais, e a estabilidade emocional (a tendência para permanecer num determinado estado emocional, tal como é manifestado nas suas expressões faciais).

Os investigadores concluíram que a reatividade emocional do psicoterapeuta é um indicador significativo da aliança terapêutica, pois quanto mais este reage ao paciente através das expressões faciais, mais forte é o vínculo. Os autores sugerem que uma reatividade baixa, pelo contrário, pode ser um indicador de que o psicoterapeuta está entediado, cansado ou emocionalmente distante.

A estabilidade emocional do psicoterapeuta, por sua vez, também se revelou um indicador significativo da aliança terapêutica. Apesar do psicoterapeuta reagir de forma dinâmica e espontânea às emoções do paciente, é esperado que ele mantenha ao longo da sessão uma estabilidade emocional. Quanto mais emocionalmente estável o psicoterapeuta permanece na sessão, como é expresso pelas suas expressões faciais, mais forte é a aliança terapêutica.

No que diz respeito às expressões faciais do paciente, a sua reatividade emocional demonstrou ser um importante sinal de uma aliança terapêutica robusta, ou seja, mais reações através de expressões faciais indiciam que o paciente está mais motivado para ir ao encontro da comunicação do psicoterapeuta.

 

Chaves para uma aliança terapêutica robusta

A comunicação não verbal é uma das mais poderosas ferramentas para transmitir emoções e intenções. O estudo anterior sublinha a importância que as expressões faciais desempenham na construção de uma aliança terapêutica robusta, com particular impacto nos seguintes aspetos:

Empatia e conexão emocional: As expressões faciais do psicoterapeuta podem comunicar empatia, compreensão e aceitação. Um sorriso ou uma expressão de atenção pode ajudar o paciente a sentir-se ouvido e compreendido. Da mesma forma, as expressões do paciente podem fornecer ao psicoterapeuta pistas sobre o seu estado emocional, permitindo que ele ajuste a sua abordagem.

Validação emocional: Quando um psicoterapeuta responde às expressões faciais do paciente de forma adequada, valida as emoções deste. Isso ajuda o paciente a sentir que suas emoções são legítimas e que é seguro expressá-las no ambiente psicoterapêutico.

Confiança e segurança: As expressões faciais do psicoterapeuta, quando autênticas, ajudam a construir confiança. Por exemplo, uma expressão de preocupação genuína pode fazer com que o paciente se sinta mais à vontade para partilhar questões difíceis, sabendo que o psicoterapeuta está presente emocionalmente.

Sincronização emocional: As expressões faciais também ajudam a criar uma ressonância emocional entre o psicoterapeuta e o paciente. Quando ambos estão “sintonizados” emocionalmente, a aliança terapêutica é fortalecida, facilitando um trabalho mais profundo.

Regulação emocional: O psicoterapeuta pode usar as suas expressões faciais para ajudar a regular as emoções do paciente. Por exemplo, uma expressão calma e tranquilizadora pode servir para conter a ansiedade de um paciente em momentos de stress.

Esses aspetos tornam as expressões faciais um elemento crucial para estabelecer e manter uma aliança terapêutica eficaz, auxiliando a comunicação e promovendo uma relação de confiança e apoio mútuo.

Bibliografia

[1] Tal, S., Ben-David Sela, T., Dolev-Amit, T., Hel-Or, H., & Zilcha-Mano, S. (2024). Reactivity and stability in facial expressions as an indicator of therapeutic alliance strength. Psychotherapy Research, 1–15. https://doi.org/10.1080/10503307.2024.2311777

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