Seselelame, filas de hipermercados e linguagem corporal

Vamos começar com um pequeno desafio! Preparado? Quantos sentidos é que possuímos? A resposta parece óbvia. É claro que enumerou cinco sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar. Talvez também tenha pensado na intuição, o misterioso sexto sentido normalmente associado às mulheres.

Esta pergunta foi feita ao povo Anlo-Ewe, do Sudoeste do Gana, pela antropóloga Kathryn Geurts. Acharam a questão totalmente descabida. Nunca lhes ocorreu contar os sentidos. Após Kathryn ter enumerado os cinco sentidos, eles perguntaram pelo outro, o sentido principal.

Não se estavam a referir ao enigmático sexto sentido mas a algo que todos possuímos e que é fundamental para a operatividade no mundo: o sentido chamado Seselelame. Esta palavra, cuja tradução literal é “sentir no corpo”, é descrita pelo povo Anlo-Ewe como um estado de profunda atenção às sensações físicas que estão a ocorrer no momento presente. Não é algo que a maioria de nós tenha assumido como um sentido propriamente dito. No entanto, é fundamental pois permite alcançar um estado de consciência mais apurado sobre a nossa própria linguagem corporal.

Como é que toma consciência de que uma emoção se manifesta? Através da sua linguagem corporal e das sensações físicas associadas. O corpo é a arena onde as emoções ocorrem. Imagine que está a sentir raiva. A sua estrutura corporal e facial altera-se automaticamente. As sobrancelhas baixam e aproximam-se, a mandíbula fica tensa, o tronco mais inchado e o sangue flui com mais intensidade para os braços e mãos…

Vejamos o período de celebrações natalícias que terminou, muitas foram as solicitações e pouco o tempo para as realizar. Encontrar o equilíbrio entre tantas responsabilidades é um verdadeiro o desafio. Desta forma, é muito fácil ficar perdido num ciclo vicioso de pensamentos negativos. Veja-se alguém preso numa fila interminável de um hipermercado, a comprar os últimos presentes de Natal. Começa automaticamente a recordar o passado (“devia ter comprado os presentes com antecedência, todos os anos é a mesma coisa…”) e a imaginar o futuro (“ainda vou ter de ir a mais uma loja, vou chegar a casa tão tarde…”). Muitas pessoas tentam conter as emoções através dos pensamentos. Sabemos o quão ineficaz é dizer a nós próprios para nos acalmarmos quando estamos profundamente stressados.

A solução é utilizar o sentido Seselelame! A forma mais direta de travar as viagens mentais é regressar à experiência do presente, à vivência real do aqui e agora. Ora, a linguagem corporal interna é o elemento que nos enraíza no presente. Daí a importância de regressar às sensações físicas, a verdadeira origem das emoções. Pode dirigir a atenção para o que está a sentir: coração palpitante, respiração trémula, tensão nos ombros… Não é necessário mudar ou analisar as sensações. Apenas vivê-las tal como estão a acontecer no momento.

Ao escolher este foco irá aperceber-se que a torrente de pensamentos se começa a dissipar. Saiu das viagens mentais do passado e do futuro para a experiência corporal do presente. Enraizado no aqui e agora, pode agora alterar o seu estado emocional através de um elemento corporal que sempre esteve ao seu alcance: a respiração abdominal ou diafragmática.

Pode realizar um ciclo de 10 segundos e contar internamente o tempo:

  • Inspirar pelo nariz, alongando o abdómen sem movimentar o tórax: 1… 2…
  • Suster o ar dentro do abdómen: 3… 4…
  • Expirar pela boca, controlando o fluxo e contraindo o abdómen: 5… 6… 7… 8…
  • Aguardar: 9… 10…
  • Reiniciar o ciclo.

A realização de 3 ciclos demora apenas 30 segundos e tem um impacto real no seu estado emocional. Esta é uma estratégia de relaxamento clinicamente comprovada. Porém, só pode ser utilizada quando toma consciência da sua linguagem corporal. Ao dirigir a sua atenção para o interior e realizar um ciclo de respiração diafragmática está a desenvolver o sentido Seselelame, capacitando-o a gerir de forma cada vez mais autónoma e eficaz os inúmeros desafios que a realidade apresenta no dia a dia.

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