A verdade sobre a fórmula 7-38-55

A Fórmula Mágica

Provavelmente já leu ou ouviu falar da fórmula mágica “7% da comunicação é transmitida pelas palavras, 38% pelo tom de voz e 55% pela linguagem corporal!”, descrita como uma regra universal da comunicação. Será realmente assim?

É um facto que a linguagem corporal tem um papel fundamental na comunicação mas é importante compreender que esta ideia foi completamente descontextualizada e afastada do seu sentido original. A fórmula foi desenvolvida a partir de dois estudos realizados em 1967 por Albert Mehrabian, Morton Wiener e Susan Ferris na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). Importa ter presente que o objetivo dos autores não foi a análise da comunicação em geral mas apenas da comunicação de emoções e atitudes. Vejamos…

O Primeiro Estudo

No primeiro estudo[1] foi pedido a 30 estudantes de Psicologia para escutarem 9 palavras gravadas numa cassete áudio: 3 palavras positivas, 3 palavras negativas e 3 palavras neutras. Estas palavras foram ditas com tons de voz diferentes e os estudantes tinham de adivinhar quais as emoções associadas, utilizando uma escala quantitativa. Naturalmente, o tom de voz foi um melhor preditor das emoções do que o conteúdo das palavras. Este resultado foi óbvio pois escutar a tonalidade da voz contém mais informação emocional do que escutar palavras isoladas e sem qualquer contexto associado.

O Segundo Estudo

No segundo estudo[2] foi solicitado a 37 estudantes de Psicologia para escutarem uma gravação áudio da palavra “talvez”, proferida com três tons de voz diferentes (positivo, negativo e neutro). Após escutarem a gravação, foram-lhes mostradas fotografias a preto e branco de um rosto feminino com expressões faciais positivas, negativas e neutras. Tal como no estudo anterior, tinham de adivinhar quais as emoções associadas ao tom de voz e às expressões faciais. Uma vez mais, os resultados foram evidentes. Foi mais fácil identificar as emoções positivas, negativas e neutras ao observar as expressões faciais das fotografias do que ao escutar a palavra “talvez” com diferentes tons de voz.

A Verdade sobre a Fórmula

Mehrabian combinou as estatísticas dos dois estudos e criou a fórmula 7-38-55.[3] É importante salientar que este investigador foi um dos pioneiros na análise da comunicação humana e os seus estudos foram inovadores. Todavia, devem ser contextualizados. Em primeiro lugar, foram efetuados num ambiente laboratorial controlado, algo muito diferente de uma interação num contexto real. Por outro lado, foram realizados há mais de 50 anos, com uma amostra reduzida e pouco representativa da população geral (estudantes de Psicologia da UCLA). Mas, mais importante, foi o facto destes estudos se referirem exclusivamente à comunicação de emoções e atitudes e não à comunicação como um todo. O próprio autor colocou um post na sua página pessoal para evitar mal-entendidos:

Por favor, note que esta e outras equações referentes à importância relativa das mensagens verbais e não verbais derivaram de experiências que lidam com a comunicação de emoções e atitudes (i.e., gostar e não gostar). A menos que um comunicador esteja a falar sobre as suas emoções ou atitudes, essas equações não são aplicáveis.[4]

Conclusão

Se levar esta fórmula à letra, poderá considerar que basta uma pessoa possuir um tom de voz possante e uma linguagem corporal confiante para comunicar uma mensagem de forma eficaz. Mas será? Imagine que está a visitar um país cuja língua desconhece. Se as palavras apenas correspondessem a 7% da comunicação, bastaria estar atento à tonalidade vocal e à linguagem corporal do seu interlocutor para captar 93% da mensagem. Como é óbvio, isto não lhe permite descodificar a totalidade da mensagem (a não ser que se trate da expressão isolada de uma emoção). A comunicação é um processo fluído, sendo o peso atribuído aos três elementos variável consoante o contexto e o conteúdo de cada interação.

Para concluir, o conteúdo deste artigo foi apresentado somente através do canal verbal, sem recorrer ao tom de voz e à linguagem corporal. Apesar de estar apenas a ler palavras, estou confiante que reteve mais de 7% da mensagem!

 

[1] Mehrabian, A. & Wiener, M. (1967). Decoding of inconsistent communications. Journal of Personality and Social Psychology 6(1), pp. 109-114.
[2] Mehrabian, A. & Ferris, S. (1967). Inference of attitudes from nonverbal communication in two channels. Journal of Consulting Psychology, 31(3), pp. 248-252.
[3] Mehrabian, A. (1971). Silent messages. Belmont, CA: Wadsworth.
[4] http://www.kaaj.com/psych/smorder.html
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