Será possível falsificar as expressões faciais das emoções?
Para saber a resposta a esta pergunta vai criar dois cenários na sua mente…
O Presente de Natal
Comece por imaginar o momento em que abre um presente no Natal e descobre, de forma desconsolada, um par de meias brancas. Quer rapidamente procurar um embrulho mais promissor quando a sua mãe lhe toca no ombro e diz: “agradece à tua tia e diz que gostaste muito das meias.” Ainda que contrariado, adota uma postura de menino de coro, força um sorriso e pronuncia: “muito obrigado pelas meias tia, gostei muito.”
A Raspadinha no Café
Imagine agora outro cenário. Está a beber um café com um amigo e ele decide comprar uma raspadinha. Incentivado pelo entusiasmo do seu amigo, segue o exemplo. Retira sem grande expetativa uma moeda da carteira e começa a raspar o cartão. O primeiro símbolo é um trevo, o segundo um trevo… Sente um ligeiro suor nos dedos e o coração a palpitar enquanto raspa o último símbolo… Timidamente surge no cartão algo que se assemelha à perna de um trevo… Agora o coração bate ainda mais depressa enquanto se apressa a raspar o resto do último símbolo e vislumbra que… é também um trevo!!! Acabou de ganhar 2.000€! Invadido de forma involuntária por um fluxo de felicidade em todo o seu corpo, produz um sorriso e eleva energicamente os braços no ar.
Qual é a Diferença?
Em ambos os contextos manifestou um sorriso, uma expressão facial de alegria. Qual é a diferença? Esta situação pode ser explicada pela existência de dois caminhos distintos no cérebro para a expressão das emoções: a via lenta e a via rápida.
A Via Lenta
A via lenta corresponde à situação das meias que recebeu no Natal. As palavras da sua mãe “agradece à tua tia e diz que gostaste muito das meias” são captadas pelos seus ouvidos e transmitidas ao tálamo, o órgão no cérebro responsável pela recolha da informação proveniente dos sentidos. Esta informação dirige-se para o córtex cerebral, onde é processada a componente racional, e para os gânglios basais (em particular a amígdala e o ventrum striatum), onde é processada a componente emocional. Realiza uma análise do custo-benefício da situação e percebe rapidamente que é mais vantajoso agradecer à sua tia do que desobedecer à sua mãe e receber um castigo. Como consequência, dirige-se à sua tia e voluntariamente realiza um sorriso artificial para satisfazer o pedido.
A Via Rápida
A via rápida corresponde à situação da raspadinha. A informação é igualmente captada pelos sentidos e transmitida ao tálamo. No entanto, como a experiência é imprevista, intensa e significativa, chega aos gânglios basais sem atingir o córtex cerebral, ocorrendo uma reação emocional automática ao prémio, manifesta no sorriso involuntário. Por outras palavras, a imagem do terceiro símbolo despoletou uma emoção instintiva que se traduziu na elevação dos cantos dos lábios. Só alguns milissegundos depois é que a informação atinge o córtex cerebral e se apercebe racionalmente da situação.
Conclusão…
Como é evidente, conseguimos falsificar algumas emoções e criar expressões faciais através da via lenta. Todavia, esta fabricação normalmente tem contornos artificiais. A expressão parece forçada e pode surgir de forma assimétrica, dessincronizada com o discurso ou ter um final demasiado súbito. Pelo contrário, sempre que uma experiência é inesperada, intensa e emocionalmente significativa, a via rápida é ativada, surgindo uma expressão facial genuína, natural e incontrolável. O cérebro pode tentar ocultar estas expressões, tornando-as muito rápidas (microexpressões) ou muito ténues (expressões subtis). No entanto, se estiver realmente atento, poderá identificar emoções autênticas e gerir as suas relações com mais eficácia, pois compreende o que a outra pessoa está verdadeiramente a sentir.