A Depressão sorridente

Depressão sorridente: Quando os sorrisos escondem a tristeza

Um mundo deprimido

Sabe-se que as perturbações do humor estão entre as 10 principais causas de incapacidade em todo o mundo e a depressão, em particular, é o problema de saúde com maior prevalência na União Europeia, afetando cerca de 50 milhões de pessoas e apresentando maior incidência nas mulheres, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde.

A realidade nacional não foge à regra e cerca de 8% dos portugueses têm um diagnóstico de depressão, colocando Portugal em 5º lugar na lista dos países com mais casos.

Se pensarmos que nem todas as pessoas procuram ajudam e, como tal, não estão diagnosticadas, a percentagem real de população que padece desta patologia pode ser significativamente superior.

A depressão sorridente (ou depressão atípica)

Por esta razão, no Dia Mundial da Saúde Mental decidimos falar-lhe de uma forma menos conhecida de perturbação depressiva: a “depressão sorridente” ou depressão atípica. Ao contrário das formas mais comuns de depressão, que habitualmente se manifestam por fadiga, apatia, desinteresse e tristeza, quem sofre de depressão sorridente tende a mascarar estes sintomas, aparentando ser indivíduos altamente funcionais e ajustados, produtivos no trabalho, envolvidos na dinâmica familiar e com uma vida social ativa.

No entanto, este desempenho é apenas aparência e interiormente estes indivíduos estão em grande sofrimento psíquico e em risco acrescido de suicídio: por um lado, como os sintomas estão camuflados por uma capa de sucesso e felicidade, poderão demorar mais tempo a procurar ajuda e a iniciar o tratamento. Por outro lado, neste tipo de depressão os níveis de energia são habitualmente elevados e, por esta razão, quando existe ideação suicida, estes indivíduos estão mais disponíveis para procurar formas de a concretizar.

Mas sorrir não ajuda a que as pessoas se sintam melhor?

A dissimulação continuada da tristeza através de sorrisos não genuínos pode ter consequências para o bem-estar do indivíduo. De acordo com um estudo levado a cabo em 2011 pela Michigan State University, os trabalhadores que falsificam sorrisos durante a jornada de trabalho agravam o estado do seu humor, pois sorrir só por sorrir pode conduzir a um estado de exaustão e retirada emocional.

Como reconhecer a depressão sorridente

Quais são, então, os sintomas da depressão sorridente? O principal sintoma é a tristeza que se esconde atrás do sorriso e da aparência de normalidade.

A tristeza pode ser em relação a uma perda, a desafios ou insatisfação no trabalho ou ao sentimento de vazio pela falta de propósito. Domina, no entanto, a sensação de que, apesar de tudo o que possui, existe algo que não está bem.

A tristeza e a insatisfação podem ser acompanhadas de ansiedade, medo, baixa autoestima, irritabilidade, raiva, fadiga, desespero e desesperança em relação ao futuro, aumento de peso, sono excessivo e sensação de pernas e braços cansados.

O que fazer se suspeita que alguém que conhece poderá estar a sofrer deste tipo de depressão?

Procure ter uma conversa honesta com a pessoa e saber como é que ela se sente. Mostre-se disponível para escutar, dispensando julgamentos, e esteja atento às palavras proferidas e ao comportamento não verbal – tom de voz, postura, gestos e expressões faciais.

– A postura corporal é calma e relaxada ou nervosa e abatida?

– O contacto ocular é ajustado ou o indivíduo evita-o?

– Existem gestos a acompanhar o discurso ou o abatimento também se revela numa diminuição do gesticular, em relação à linha neutra do indivíduo?

– As expressões faciais são congruentes com o discurso?

– Existem sorrisos genuínos ou apenas sorrisos sociais? (descubra aqui a distinção de sorrisos genuínos e sociais)

A depressão sorridente é particularmente difícil de reconhecer porque estes indivíduos são muito competentes a mascarar sintomas e, adicionalmente, o diagnóstico de depressão é da competência dos profissionais de Saúde Mental.

No entanto, se suspeita que alguém poderá sofrer de depressão sorridente, poderá estar atento a estes elementos, tendo presente o contexto, a linha neutra do indivíduo e que nenhum destes sinais por si só é suficiente para um diagnóstico.

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