Como funciona o polígrafo? Será mesmo um detetor de mentiras?
De entre os muitos instrumentos científicos e pseudocientíficos que existem para detetar mentiras, o polígrafo é, certamente, o mais conhecido, a ponto de ser popularmente designado como “Detetor de Mentiras”. Mas será que este instrumento consegue mesmo identificar mentirosos?
Como surgiu o polígrafo
Construído no início do século passado, numa época de grande desenvolvimento dos instrumentos de mensuração de indicadores fisiológicos, este “medidor” foi objeto de um processo contínuo de avanços e alterações.
Em 1915, o psicólogo americano William Marston inventou o protótipo de um aparelho que detetava o engano, através da análise da pressão arterial.
Em 1921, John Larson, agente do Departamento da Polícia de Berkeley, criou um novo aparelho em que manteve a análise da pressão arterial e adicionou três novos indicadores fisiológicos: a frequência cardíaca e a amplitude e ritmo respiratórios.
Em 1938, Leonarde Keeler, que tinha sido assistente de John Larson, introduziu o quarto canal: a resposta galvânica da pele.
Do conjunto destes contributos nasceram os polígrafos moderno.
Como funciona o polígrafo
O teste psicológico mais utilizado durante o exame poligráfico é o Teste de Comparação de Perguntas (também conhecido como Teste das Questões de Controlo). É constituído por cinco etapas:
- pré-entrevista,
- teste de estimulação,
- formulação de perguntas,
- exame poligráfico
- cotação.
Pré-entrevista:
O objetivo desta etapa é a recolha de informação acerca do entrevistado e da situação que motivou o exame. Esta fase é fundamental para o estabelecimento da confiança entre examinador e examinado, oferecendo a este uma oportunidade para contar livremente a sua versão dos acontecimentos.
Estimulação:
O examinador pede ao examinado para escolher uma carta de um baralho, memorizá-la e colocá-la novamente no baralho. De seguida, o examinador irá mostrar as várias cartas à pessoa e perguntar “é esta a carta?”. O suspeito irá responder “não” a todas as cartas.
Após analisar os registos do polígrafo, o examinador irá identificar a carta que o suspeito memorizou, convencendo o examinado da infabilidade do polígrafo. Para que não exista o perigo de errar a carta, o examinador poderá recorrer a um conjunto de estratégias enganosas como marcar as cartas ou recorrer a um baralho viciado.
Formulação de perguntas:
O examinador define as perguntas que irão ser realizadas durante o exame e discute-as com o examinado, para garantir que este compreende de forma clara as questões e que irá responder “sim” ou “não” a todas elas.
Exame poligráfico:
Nesta fase ocorre o questionamento propriamente dito, que obedece a uma sequência específica de perguntas: neutras, controlo e relevantes.
A sequência das questões começa com uma pergunta neutra, para aferir a linha basal do suspeito (ex: “hoje é quinta-feira?”).
Segue-se uma pergunta de controlo relacionada com o tipo de crime em investigação, mas que é apresentada de forma deliberadamente vaga e cobre um período de tempo muito grande na história do indivíduo (ex: “durante os primeiros 20 anos da sua vida alguma vez tirou alguma coisa que não lhe pertencia?”). Esta questão coloca um dilema: se o sujeito responder “não” estará a mentir, mas se responder “sim” sabe que terá de dar explicações posteriores.
Por fim, segue-se uma pergunta relevante, diretamente relacionada com o crime (“roubou o Audi preto no dia 6 de janeiro?”). Esta sequência com três tipos de perguntas deverá manter-se ao longo de todo o interrogatório.
Cotação:
O examinador procede à interpretação dos dados poligráficos recorrendo a um sistema numérico específico ou a uma análise estatística automatizada baseada em algoritmos. Pode surgir um dos seguintes resultados finais: verdade, mentira ou inconclusivo.
O que é que é esperado num suspeito que está a mentir em relação ao delito de que é acusado?
Durante as perguntas relevantes, observa-se uma subida da pressão arterial, uma aceleração do ritmo cardíaco, um aumento da resposta galvânica da pele e um incremento da atividade respiratória, que se torna mais superficial. O pressuposto teórico aqui subjacente é o seguinte: um suspeito que diz a verdade tem reações psicofisiológicas mais significativas às perguntas de controlo do que às perguntas relevantes.
Mas será que o polígrafo é mesmo um instrumento infalível na deteção da mentira?
O polígrafo foi concebido para registar a reação ao stress e é precisamente isso que ele faz!
É assim que funciona o polígrafo.
A mentira não é o único fator capaz de criar stress. A própria situação de avaliação pode induzir ansiedade e gerar um falso positivo (um sujeito honesto é avaliado como mentiroso).
Na nossa Certificação em Análise do Comportamento e Entrevista Forense (Nível 3 da Especialização Avançada), aprenderá como funciona o polígrafo. Irá analisar a relação entre a psicofisiologia e a avaliação da credibilidade e realizar atividades práticas com o polígrafo. Será que o consegue enganar?